Empreenda com impressão 3D Deixe um comentário

A impressora 3D é com uma folha em branco. Em mãos talentosas, pode sair de uma folha em branco Ulisses, de James Joyce, Ilíada e a Odisséia de Homero, ou o Senhor dos Anéis de Tolkien. De mãos menos talentosas, esse texto! Mas o fato é que embora seja imprescindível uma impressora 3D para empreender com a impressão 3D, empreender em si não depende da impressora 3D, ela materializa ideias, ela democratiza a possibilidade de fabricação de produtos. Mas essencialmente, empreender, com ou sem a impressora 3D ainda depende dos mesmos denominadores comuns a todo empreendedor: uma ideia, um plano de negócio viável, um cálculo de custos e muito suor.

“Ah Emanuel, então empreender com impressão 3D é furada?”, não, pequeno Padawan, mas tampouco ela é uma máquina mágica que gera dinheiro sozinha, enquanto você toma drinks sofisticados com guarda chuvinhas em uma praia do Caribe… O que quero dizer, é que como qualquer outro negócio, ela requer cuidados e dedicação.

O que uma impressora 3D nos permite fazer?

Na indústria tradicional, de sapatos à carros, você pode trabalhar nela 35 anos sem faltar e sem falhar, e mesmo assim, você não pode acordar numa manhã de quinta feira e falar quer saber, vou abrir minha própria empresa!. Existe um negócio Michel Potter chama de Barreiras de Entrada. Na indústria tradicional o grande investimento em máquinas caras e infraestrutura são, sem dúvidas, grandes barreiras de entradas. Os custos de iniciar um negócio em determinados segmentos é tão alto que poucas pessoas e empresas chegam a considerar essa possibilidade.

Graças ao Fordismo e ao Taylorismo, a indústria veio sendo moldada para a máxima produção com o mínimo conhecimento do processo completo por parte dos funcionários. E mesmo quem domina bem todo o processo, dificilmente conseguirá comprar as máquinas necessárias, para produzir mais e melhor que a própria indústria onde trabalha.

Com a Impressão 3D esse cenário começou a mudar, desde que saibamos olhar para ela da maneira correta. Comparadas com as tradicionais fábrica de celulares, sapatos ou automóveis, as empresas intensivas em I3D acabam obtendo um diferencial competitivo, a elevada personalização dos produtos. Com a impressão 3D você não precisa competir com uma fábrica na China que fabrica 1000 capas de iPhone por minuto, mas você pode fazer uma capa de iPhone exclusiva, exatamente como seu cliente sempre sonhou, mesmo que ela custe mais caro. O grande avanço da Impressão 3D foi a personalização.

Assim, empreender com a impressão 3D, em objetos de decoração, personalização de bens, como a capinha de celular, um apoio para tablet, organizador de cabos e um sem número de coisas, é uma das opções que faz muito sentido. Por muito tempo aqui no Brasil, a venda de vasos de decoração foi bem quente entre os entrantes no mundo da impressão 3D, logo o mercado saturou do dito vaso cabeçudinho, o tal do ‘Bob’s Vase’, e quem sobreviveu foi quem inovou e agregou novas informações aos vasos: um nome, uma mensagem personalizada, ou simplesmente modificou o vaso para novas e exclusivas posições.

Como a Impressão 3D vem sendo utilizada pelas indústrias?

No campo industrial as aplicações são inúmeras, ao ponto da ASTM – American Society Testing and Materiais – uma forma de ABNT estadunidense – criar 3 classificações distintas para a impressão 3D no chão de fábrica: Manufatura Auxiliada, quando a impressão 3D fornece acessórios para a fabricação tradicional, como berços de montagem ou de transporte; Manufatura Expandida, quando a impressão 3D atua junto com meios tradicionais na produção industrial, em geral é aplicada em soluções de robótica, como garras, grampos, torres, ou criando processos especiais junto à produção comum, como moldes impressos atuando em paralelo aos moldes injetados, numa linha de injetoras de plástico, criando linhas personalizadas para produtos premium, ou simplesmente brindes personalizados para aquele cliente que sempre faz grandes pedidos; e por fim, Manufatura Direta, quando a impressão 3D produz o produto, diretamente da impressora para seu uso. Podem ser peças de veículos fora de linha, podem ser peças para aviões, em materiais especiais.

Atuar na indústria requer, além de um bom domínio da impressora 3D, e um gama de materiais de fornecedores de confiança, também um bom conhecimento da indústria, ser capaz de modelar em 3D peças que já não são mais fabricadas, seja por que o maquinário é antigo, seja por que o fornecedor de determinada máquina já fechou ou saiu do país.

E quais são as outras possibilidades de atuação?

Além de aplicações em decoração e da indústria em seu amplo espectro, ainda há o empreendedorismo como hobbie: consertar ou aprimorar carros de controle remotos, robôs de competição, drones, aeromodelos. Conheço pessoas que iam ao lixão de Santo André, famoso ponto de reunião de aficionados por aeromodelismo, e quando alguém perdia o controle de seu avião, ele já ia lá deixar seu cartão. Modelismo também entra nessa categoria, criar coleções de veículos militares em escala 1:38, principalmente da ENGESA, ou de veículos gringos, para colecionadores é outra área que vejo muita gente se aplicando. Aqui, além da modelagem 3D, pintura e acabamento são características desejáveis de quem quer empreender nesse segmento.

Claro que você sempre pode optar por abrir um Bureau de Impressão 3D, e passivamente receber trabalhos de todos os segmentos acima para produzir sobre encomenda, vendendo o serviço por um mix de hora e material consumido. A vantagem aqui é a mesma do clínico geral da medicina, operar em diversos segmentos, até achar aquele que você pode efetivamente contribuir no desenvolvimento, mas a desvantagem é achar clientes e se fazer notar, em um meio onde há muitas pessoas começando e outras empresas já muito estabelecidas.

Empreender com Impressão 3D requer Paixão e Suor

No geral, empreender em 3D, como em qualquer segmento e como eu já mencionei antes, requer dedicação e paixão, encontrar onde atuar e onde suas habilidades pessoais te permitam agregar valor ao trabalho. Você pode começar sua carreira na febre dos Spiners e ficar rico vendendo essas brinquedos, ou pode começar no momento atual, num mercado em transformação pelo fim da pandemia, oremos, e pelas possibilidades que a chamada reabertura vai oferecer: escolas, indústrias e até o segmento de serviço vão buscar se resguardar caso outro lockdown apareça, e com isso, muitas oportunidades de melhorias vão surgir.

Ao empreender, a única coisa que você realmente não pode fazer é não fazer nada. Se você tem a sorte de estar empregado, pode começar devagar, vendendo serviços para serem impressos durante a noite ou fins de semana, e é um bom momento para começar. Se você está parado e pensando por onde começar um próprio negócio, a impressão 3D também pode ser um local para seu início, com amplas comunidades online e um momento de crescimento forte no país, pode ser melhor embarcar agora, do que quando o mercado já tiver muitas regulamentações e muitas barreiras de entradas, como diria Potter. Apenas dê passos pequenos, planeje e se precisar, experimente sem investir cegamente na tecnologia, existe um negócio chamado FabLabs, em quase todas as capitais do país e em grandes centros urbanos, um espaço público, para usar as ferramentas que eles possuem, e atender a diversos cursos gratuitos.

No final, faça o que fizer, e citando outra grande celebridade, nas palavras do glorioso “menino dos transformers” Shia LaBeouf: “Apenas faça”.

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